Dama em Xeque! WMI Vanessa Feliciano

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Temos a honra de inaugurar a sessão “Dama em Xeque!” entrevistando a WMI Vanessa Feliciano! 

A WMI Vanessa Feliciano nasceu em Rio do Sul-SC em 1990, filha de Nilo Feliciano, campeão catarinense em 1985. Com apenas um ano e oito meses, já montava a posição inicial das peças no tabuleiro. Com 8 anos teve seu primeiro título: venceu o Campeonato Catarinense Feminino sub-10 e logo, vice-campeã Brasileira Feminina sub-10. Seu último feito foi na Olimpíada Internacional de Xadrez realizada em Istambul no ano passado, onde venceu 5 partidas e obteve 4 empates, um deles com a russa e, agora GM, Valentina Gunina (ELO 2514). Assim, Vanessa conseguiu norma dupla de WGM. Hoje, ocupa o posto de número 1 do ranking feminino brasileiro na FIDE, com ELO de 2.239 pontos e teve seu título de WMI homologado esta semana.

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WMI Vanessa Feliciano e equipe olímpica brasileira em Istambul – 2012

“Virei WMF no segundo semestre de 2008, quando passei os 2100 de rating. Foi uma conquista importante, porque em 2007 não tive resultados muito bons e com isso a confiança também fica abalada. Em dezembro deste mesmo ano estava com 2021 que foi quando comecei a treinar com o MF Álvaro Aranha, e os resultados dessa pareceria de muito trabalho começaram a aparecer rapidamente, em menos de um ano nós tínhamos conseguido vários bons resultados, por meio ponto na última rodada do sul americano não me tornei WMI, voltei a ganhar o brasileiro de categoria (sub 18 fem), duas performances de WGM em torneios abertos, vice no pan sub 18, classificado para as Olimpíadas pela primeira vez e o título de WMF. Foram resultados rápidos, onde é possível perceber a importância do meu novo treinador. Ele sempre joga todos os créditos para mim, mas a verdade é que ele me ajudou muito, e para os que conhecem Alvinho um pouco melhor, sabem o quanto ele se doa pelos seus alunos e não mede esforços para ajudar, que com certeza o diferencia como treinador. Ele é uma pessoa muito especial para mim, alguém que agradeço muito por fazer parte da minha vida e com certeza faz parte da minha família (Quando ele liga em casa, Davi passa o telefone para mim: “Mamãe, é o tio Alvão!” rs).”

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WMI Vanessa Feliciano e GM Judit Polgar, em sua primeira olimpíada em 2008: um sonho realizado!

“Então, a partir daí vimos que era possível sonhar um pouco mais, em busca do WMI. A primeira norma foi em 2009, no Continental Absoluto, em São Paulo. Depois de um tempo mais em casa, estudando mais, em função da gravidez e depois o nascimento do Davi, a segunda norma veio no final de 2010, no Panamericano Feminino, em Campinas. Em 2011 fui campeã do Zonal 2.4, e ali para mim teria acabado, tinha ganho o título de WMI e agora não precisaria mais pensar em normas, nem em nada. Infelizmente, a FIDE não aprovou meu título. Fiquei triste sim, mas uma hora isso ia chegar, era como as  pessoas tentavam me confortar, e estavam certas.”

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WMI Vanessa Feliciano defendendo sua cidade natal, Rio do Sul

“No comecinho de 2012 eu passei os 2200, o que para mim tinha um valor muito especial, é óbvio que eu gostaria de ter o título de WMI que fica mais bonitinho né? (rs) Mas eu me confortava sabendo que eu tinha a  ‘força’ de uma WMI e que o título chegaria em qualquer momento de verdade. Depois com a Olimpíada, eu estava muito realizada, com 7 em 9, havia conquistado muitas coisas, as duas normas de WGM, muitos pontinhos no rating e agora eu poderia pedir meu título de WMI.”

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Momento de descontração com seu treinador Álvaro Aranha e sua amiga e companheira de equipe olímpica WCM Vanessa Gazola em Istambul

“A última rodada foi emocionante, ninguém havia me contado, mas a verdade é que mesmo com o bom resultado que eu já havia atingido até a penúltima rodada, não era suficiente, se eu não jogasse com uma WGM e ganhasse na última rodada não ia valer de nada, só quando vimos o emparceiramento duríssimo que era a República Tcheca é que me contaram a história verdadeira, só que eu tinha que ganhar de pretas! No dia anterior era dia de folga para todos, o que era bom, mas também era bom pra ela (rs), comecei a estudar às 15h, estava muito ansiosa, convidei a Gazola pra gente ir na academia do Hotel (não fomos nenhum dia, só no penúltimo dia pra dizer que tínhamos feito exercícios… rs) e já voltamos, parei ainda pra jantar, mas assim foi aquele dia, tentando prever “tudo” que ela poderia jogar. Tinha uma Rossolimo da oitava rodada que eu havia dado uma olhada pra garantir, ela não jogava isso, mas sempre bom fazer a lição de casa. E no tabuleiro ela repetiu a Rosso, eu fiquei com medo sim, porque pensei que viria uma mega preparação, mas tinha que enfrentar, tinha visto algumas partidas sobre aquela posição, então tinha que tentar fazer bons lances e ver o que ela me mostraria. Saí da abertura sem nenhum problema, parecia confortável para mim de pretas, depois ela acabou cometendo um erro e eu fiquei melhor, mais tarde com uma peça de vantagem e nesse momento por mais que você queira focar e concentrar na partida, por vezes a cabeça começa a pensar em muitas coisas, por justamente ser um momento tão importante, tentei me manter concentrada o máximo possível, mas confesso que nunca foi tão difícil ganhar com uma peça a mais!” (a partida encontra-se no final do post)

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Concentrada em sua partida no II Aberto do Brasil de Maringá 2012

“É claro que agora estamos trabalhando para a conquista da última norma, alcançar o rating, estou na realidade tentando não focar tanto no título, concentrar em melhorar o xadrez porque acho que é mais gostoso quando isso chega e você realmente está preparado e você consegue sentir que foi consequência de muito trabalho, espero sim que chegue logo, mas preciso aprender e estudar muita coisa, então estou certa de que tudo acontece no tempo que deve acontecer.”

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WMI Vanessa Feliciano em sua primeira participação em olimpíadas, em Dresden – 2008

“Como já citei o Alvinho inúmeras vezes e a importância dele é imensurável, tem várias pessoas que são muito importantes e não gostaria de esquecer nenhuma, mas preciso citar algumas. Sempre foi um objetivo alcançar o título de WMI, mas quando ele chegou eu não podia assumir com as despesas e pagar o título, e o Pablyto foi uma pessoa muito importante porque tornou esse título possível antes de sair da CBX, sou muito grata a ele. E principalmente a minha família, porque para as pessoas que me veem sempre nos torneios sozinha ou acompanhada do Alvinho, não podem imaginar tudo que tem por trás para que eu possa viajar tranquila, sabendo que meu pequeno Davi está bem cuidado, ele fica na casa dos meus pais que tem a minha mãe que é tudo para mim e para ele, meu pai que fica torcendo como ninguém por mim e ajuda no que pode com o pequeno foguetinho, onde também tem a bisa que o leva pra passear, sempre que minhas irmãs podem elas estão lá para distrair o Davi, inventar brincadeiras de pinturas, aventuras, correr ao redor da mesa, e meu marido, papai do Davi, que o leva toda noite para tomar banho, pra sentir o gostinho de casa e ‘se vira nos 30’ com ele nos finais de semana, é realmente uma estrutura, um time, que me possibilita fazer o que mais gosto na vida e tornar esses sonhos possíveis.”

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Mamãe Vanessa e o pequeno Davi

“Em especial, e para finalizar, é ao meu avô, onde o xadrez inciou na família, que faria 88 anos no dia que meu título foi aprovado é que eu dedico essa conquista.

Agradeço a todos que torcem por mim e acompanham, fico realmente feliz por ter o carinho dessas pessoas.

Obrigada Ellen, pelo espaço e pela oportunidade, conte sempre comigo pelo xadrez feminino. Que bom que você está de volta!!”

“Vanessa, eu que estou agradecida de coração por sua atenção e apoio com esta entrevista exclusiva para o nosso espaço, que é muito seu também.  Sempre tive simpatia por você  desde o primeiro torneio em que te conheci e acompanhei suas conquistas desde então. Você sempre me incentivou a continuar jogando e escrevendo sobre o xadrez. Parabéns mais uma vez e espero em breve escrever sobre a mais nova WGM brasileira :)”

Ellen

UPDATE: A partida da rodada 11 das olimpíadas (aqui)

Kulovana, Eva  0-1  Feliciano Ebert, Vanessa

1. e4 c5 2. Nf3 Nc6 3. Bb5 g6 4. Bxc6 dxc6 5. d3 Bg7 6. h3 Nf6 7. Nc3 Nd7 8. Be3 e5 9. Qd2 Qe7 10. Bh6 f611. Nh2 Bxh6 12. Qxh6 Nf813. f4 exf4 14. Qxf4 Ne6 15. Qd2 Nd4 16. O-O Be6 17. Nd1 O-O18. Ne3 h519. Rf2 c4 20. Qa5 cxd3 21. Qxa7 Ne2 22. Kh1 Ng3 23. Kg1 Nxe4 24. Rf4 Bf7 25. cxd3 Rxd3 26. Re1Rhd8 27. b4 f5 28. a3 Qe529. Rf3 Qb2 30. Nxf5 gxf531. Qa8 Kc7 32. Qa5 Kb833. Qxf5 Qd4 34. Rfe3 Rxe3 35. Qf4 Ka8 36. Rxe3 Nd237. Qf2 Nc4 38. Rf3 Qxf239. Kxf2 Rd2 40. Kg3 Bd541. Rf8 Ka7 42. Nf3 Ra243. Rh8 Ne3 44. Nd4 Rxa3 45. Kf4 Nxg2 46. Ke5 Rxh3 47. b5 Re3 48. Kd6 Rd349. Kc5 Rc3 50. Kd6 h451. Nf5 h3 52. Ne7 Kb 653. bxc6 Bxc6 54. Nc8 Ka5 55. Ne7 Be4 56. Ke5 Bc657. Kd4 Kb4 58. Nxc6 Rxc6 59. Rxh3 Rd6 60. Ke4 b5 61. Rh2 Rd2 62. Rh1 Kc 363. Kf3 b4

16 pensamentos sobre “Dama em Xeque! WMI Vanessa Feliciano

  1. Parabéns pelo blog e pela entrevista, iniciativas como essa que aumentam a visibilidade do xadrez feminino são importantíssimas para incentivar a pratica e valorização do esporte. Parabéns também a Vanessa pelo título! Desde que eu comecei a jogar xadrez (faz pouco tempo, admito) ela sempre foi alvo da minha admiração e fonte de inspiração.
    Grande abraço

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